sábado, 1 de maio de 2010

Salvador precisa do Salvador.

O que podemos esperar de uma cidade com três milhões de habitantes, aproximadamente, que carece de infra-estrutura básica em todos os campos? Este é o desafio da Salvador do século XXI que tem a obrigação de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de um Brasil que enfrenta também grandes problemas, com dificuldades de resolução em curto prazo.
Dois pontos extremamentes complicados são os transportes públicos e a violência, na verdade a locomoção na cidade como um todo, hoje é muito complicada e os antigos horários de pico são a qualquer hora do dia, temos uma frota de automóveis que cresce diariamente. O sonho do soteropolitano além da casa própria é o automóvel, para alguns este desejo até já ultrapassou a moradia, num primeiro momento, diante das facilidades do crédito. O que este crescimento mostra, antes de qualquer coisa é o descontentamento com um transporte público predominantemente rodoviário feito por ônibus que atende a maior parte da população, serviço precário com todos os tipos de problemas que possamos imaginar.
Diante de tantos contratempos a Prefeitura de Salvador adota os corredores exclusivos para ônibus, os quais não existem de verdade, apenas em poucos trechos observamos corredores como na Avenida ACM que passa pela Estação Iguatemi e na Avenida Garibaldi, por exemplo, a maior parte do que se chama de corredor exclusivo é uma faixa branca à direita da via, que a maioria dos motoristas soteropolitanos não respeita, principalmente nos engarrafamentos, assim como os motoristas de ônibus invadem as vias de automóveis e vice-versa. O transito da capital piora a cada dia, ao ponto do prefeito cometer o absurdo de culpar o financiamento de automóveis em longo prazo pelo caos do transito.
Um metrô que é uma piada, contada a população há dez anos, mas ninguém rir, pelo contrário. Quando for inaugurado certamente vai ser o menor e mais caro trecho de metrô do planeta, em uma cidade cuja população em sua grande maioria tem um poder aquisitivo baixo, foram jogados bilhões nos bolsos de alguns, que não serão julgados e condenados nunca. O metrô ainda não se sabe quando vai passar, mas o que podemos ter certeza é que mesmo com sua inauguração, ninguém sabe quando, diga-se de passagem, pouca coisa vai mudar no transito da cidade já que os seus 6 km pouco contribuirão para resolver os problemas de toda a cidade.
A violência vem aumentado a números alarmantes, infelizmente já podemos comparar, sem medo de errar, os índices de violência de Salvador com São Paulo e Rio de Janeiro. O que antes só atingia os moradores dos bairros periféricos, agora atinge todos, a Pituba, por exemplo, já é mais violenta que muitos bairros pobres da capital.
Pólo de atração de mão-de-obra em sua maioria de baixa qualificação, o crescimento vegetativo da cidade não é acompanhado pelo crescimento econômico e da infra-estrutura urbana, o que culmina em todo este caos social que vemos.
A solução para todos os problemas da cidade, ao que tudo indica, até o presente momento ninguém possui. Os governantes que tiverem a resposta, não poderão por em pratica por conta de um orçamento público estrangulado que atrasa até os salários do funcionalismo público.
O que o cidadão comum pode fazer para amenizar os problemas da capital? Realmente estamos de mãos atadas, reféns e prisioneiros de conjuntura de medo, ou melhor dizendo até de terror que assola todas as famílias. Ouço diariamente jornalistas no radio e televisão vociferar para os quatro cantos que não saem à noite de casa, mas o problema e que não tem mais hora para você ser assaltado ou até morto em algum latrocínio, os quais assistimos todos os dias nos meios de comunicação, além das pessoas que trabalham até altas horas, ou mesmo aquelas que saem dos seus trabalhos às dezoito horas, mas só conseguem chegar em casa lá pelas vinte, vinte duas horas, devido aos engarrafamentos. Será que ficarmos enclausurados vai resolver os problemas ou ira aumentar ainda mais a insegurança pela nossa omissão?

sábado, 27 de março de 2010

A Ponte de Salvador a Polêmica

Interessante como na Bahia tudo gera muita polêmica e uma ponte ligando Salvador a Itaparica não seria diferente. Lembro-me como se fosse hoje a primeira vez que estive na ilha, ainda muito criança, coisa de seus 3 ou 4 anos, minha mãe guarda as fotos em preto e branco, muitas saudades. A ilha naquela época era muita mais tranquila e sossegada, lembro do Convento que ficamos hospedados e da comida maravilhosa das freiras, das quais não me esqueço até hoje.  Acontece que alguns anos depois, chegar a Itaparica já era um pandemônio, lembro de viagens que fizemos as 2 horas da madrugada com hora marcada para não pegarmos as filas para o translado no ferry-boat que naquela época já era um inferno que desestimulava  qualquer cidadão que quisesse um pouco de sossego a se arvorar por esta epopéia, que era e é chegar a ilha usando o ferry. Houve muitos casos de conhecidos que iam e vão pela estrada gastando muito mais em todos os sentidos.
A ponte para Itaparica já naquela época era um sonho de muitos baianos, inclusive eu quando criança já imaginava tal obra a semelhança da Ponte Rio-Niteroi , ouvi muitos boatos que a Souza Cruz se propusera a construir a ponte em troca de benefícios fiscais, que a construtora Norberto Odebrecht também fez proposta similar mas que o então cacique ACM não aceitou, boatos, boatos e mais boatos populares. Hoje temos a possibilidade real de vermos este sonho concretizado e então surgem vozes contrarias prezando por coisas que infelizmente não se pode manter nas cercanias de uma capital de aproximadamente 3 milhões de pessoas.
João Ubaldo é um grande escritor isto poucos contestam, mas que vê a ilha apenas como recanto de paz e traquilidade nas suas férias quando sai do Rio de Janeiro e vem para a “província” de Itaparica apenas descansar. Será que ele já se perguntou de verdade como os moradores da ilha dos quais ele já retirou muitos personagens para suas obras sobrevivem, no interior de suas residências, se comem apenas peixe quando a pesca é boa? Obviamente que não vou defender o que muitos dizem, que a ponte vai gerar empregos para estas pessoas que passaram a vida pescando e mariscando entre outras atividades que a ilha oferece e não sabem fazer outra coisa, mas vou defender que existem milhares de moradores de Itaparica que já migraram para Salvador e demais cidades, não por desejo mas por necessidade de sobrevivência, pessoas que utilizam os serviços da capital como o sistema de saúde e de ensino dentre outros. Será que João já se perguntou quantas horas estas pessoas levam na fila para se deslocar da ilha para Salvador e vice-versa.
Na verdade consigo entender um pouco João, mas não aceitar seus argumentos, há uns anos atrás estive em Siribinha, um povoado distrito da cidade de Conde na Linha Verde, fiquei maravilhado com a rua de areia, é apenas uma, e a estrada de areia que leva ao povoado de pescadores. Uma paz que a muito não via, dormimos de portas e janelas abertas, um verdadeiro paraíso, para mim, para muitos moradores uma tristeza, sem emprego, renda, “desenvolvimento”, para mim tudo lindo, passei apenas uma semana e no final já gerava um pouco de monotonia, com poucas opções de atividades. Agora fui informado que o trafico de drogas tomou conta do povoado, viciando os poucos jovens que permanecem em Siribinha, e até pessoas mais velhas já estão viciadas, um horror que chega até nas localidades mais distantes. Contra o tempo não há argumento e o tempo traz o desenvolvimento ou o pseudo desenvolvimento, se fala em sustentável, mas sustentar uma explosão demográfica e de consumo não tem solução fora da educação.
A ponte virá, tomara. O que João Ubaldo e outros ditos intelectuais têm que entenderem é que como diz Belchior na musica “Como Nossos Pais”, o novo sempre vem, ele citou os saveiros a vela do recôncavo que quase não existem mais, mas ele outra vez não se questionou que hoje os barcos são de alumínio com motor, poucos querem depender dos ventos para trabalhar, além do quê o transporte rodoviário mudou tudo, para melhor? Não posso responder. Mas acredito que o desenvolvimento se faz necessário. Para quem mora em um maravilhoso apartamento a beira mar no Rio de Janeiro e ganha dinheiro escrevendo, e bem graças a Deus, se questionar como viver da pesca e da mariscagem sem acesso a muitos dos bens de consumo que o referido escritor usufrui, assim como das viagens que faz é difícil entende o porquê as mulheres com 35 anos estarem banguelas, e os homens decrépitos na Ilha. Estão por que a renda e a qualidade de vida são insuficientes para uma vida realmente digna e condizente com o mundo atual, estes moradores querem ter acesso a TV de LCD e notebook, e porque não? Só João pode? A ponte vai trazer isso? Certamente não para esta geração, mas quem sabe nas próximas, com acesso a um rede melhor de educação e transporte. Criticar uma ponte que vai beneficiar milhares destes moradores em prol de um sosseguinho nas férias uma vez por ano é no mínimo egoísmo e inconsciência, mas é a opinião dele e seus seguidores e temos que respeitar, lembro de meu pai que sempre me dizia “meu filho está miséria dos alagados já inspirou artistas do mundo todo, mas é bonito ver nas telas, mas só quem vive ai sabe o que passa” consigo fazer está analogia e lembro de outra composição a Exaltação à Mangueira, samba de 1956 de Enéas Brites da Silva e Aloísio Augusto da Costa “Mangueira teu cenário é uma beleza/Que a natureza criou, ô...ô.../O morro com teus barracões de zinco,/Quando amanhece, que esplendor”, beleza para quem vê mas para quem mora nos barracões de zinco será que é uma beleza?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval e Jegue.




Na Bahia coisas estranhas acontecem todos os dias, nasci aqui, amo esta terra e não pretendo mudar, mas confesso a todos que algumas coisas ainda me impressionam. Acredito que alguns órgãos são extremamente necessários para o ordenamento social, mas existem exageros que beiram o espetáculo. Proibir tocar outro ritmo que não o forró no São João mesmo dentro de festas privadas, proibir jegue na Lavagem do Bonfim e no Carnaval entre outros impropriedades descabidas a estes órgãos.  
São pessoas que querem aparecer como ditas “civilizadas”, deveriam proibir crianças de catarem latinhas no carnaval e na Lavagem do Bonfim, seria mais justo. Sou totalmente contra maus-tratos a animais quaisquer, mas sou a favor dos jegues e cavalos nas festas populares pois é o único momento em que estes animais são “prestigiados”, enfeitados e demonstram serventia numa sociedade que trocou os animais de tração por motocicletas poluentes e barulhentas. É a dita modernidade que “atravanca o progresso”. Parafraseando o personagem de Dias Gomes na figura de Paulo Grancindo, “é com a alma lavada e enxaguada” que observo muitos palhaços para um circo tão pequeno. Triste Bahia tão quão dessemelhante.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Turismo e a Bahia





A cada dia me apaixono mais por esta terra que encanta pessoas do mundo inteiro. Belezas naturais que deixam qualquer lugar do planeta com inveja, Bahia terra da felicidade, este bordão usado pela empresa oficial de turismo do estado só não é mais verdadeiro pelos problemas de ordem social que afligem todo o país e quiçá a maior parte do planeta com raríssimas exceções.
O que o povo da Bahia precisa em primeiro plano é um grande investimento em educação para incrementar o desenvolvimento econômico que o estado vem gozando nos últimos anos por conta também do crescimento econômico nacional. O investimento em educação a médio e longo prazo irá reduzir sensivelmente os investimentos em segurança e saúde.
Os altos índices turísticos só confirmam que este é um ramo que precisa de aperfeiçoamento maior principalmente no âmbito de atendimento ao público e instalações físicas também. A armadilha que não podemos cair e que vem sendo preparada ao longo dos anos por muitos dirigentes locais é acreditar que o turismo vai ser o carro chefe do estado, o que sabemos que vem gerando muitos problemas econômicos sazonais e especificamente localizados. O crescimento do consumo interno do país já mostrou que este mercado precisa ser incrementado e incentivado, logo, manter o Pelourinho não deve ser uma obrigação exclusiva do turista é preciso que os moradores de Salvador sejam incentivados a visitar não só o Pelourinho mais todos os locais considerados ponta de lança do turismo estadual. Agora nos perguntamos como fazer isso com preços abusivos que tem como base o dólar e o euro e que afastam a população local destes locais.
O custo de vida da cidade de Salvador é extorsivo, com esta dita vocação turística da cidade a inflação gerada no verão, por exemplo, afasta a população local até das praias que diziam ser o lazer mais barato para os pobres, será que um pobre pode pagar na orla marítima a média de R$ 4,00 a R$ 6,00 em uma cerveja de 600 ml e até o mesmo valor numa long neck , dificilmente.