sábado, 27 de março de 2010

A Ponte de Salvador a Polêmica

Interessante como na Bahia tudo gera muita polêmica e uma ponte ligando Salvador a Itaparica não seria diferente. Lembro-me como se fosse hoje a primeira vez que estive na ilha, ainda muito criança, coisa de seus 3 ou 4 anos, minha mãe guarda as fotos em preto e branco, muitas saudades. A ilha naquela época era muita mais tranquila e sossegada, lembro do Convento que ficamos hospedados e da comida maravilhosa das freiras, das quais não me esqueço até hoje.  Acontece que alguns anos depois, chegar a Itaparica já era um pandemônio, lembro de viagens que fizemos as 2 horas da madrugada com hora marcada para não pegarmos as filas para o translado no ferry-boat que naquela época já era um inferno que desestimulava  qualquer cidadão que quisesse um pouco de sossego a se arvorar por esta epopéia, que era e é chegar a ilha usando o ferry. Houve muitos casos de conhecidos que iam e vão pela estrada gastando muito mais em todos os sentidos.
A ponte para Itaparica já naquela época era um sonho de muitos baianos, inclusive eu quando criança já imaginava tal obra a semelhança da Ponte Rio-Niteroi , ouvi muitos boatos que a Souza Cruz se propusera a construir a ponte em troca de benefícios fiscais, que a construtora Norberto Odebrecht também fez proposta similar mas que o então cacique ACM não aceitou, boatos, boatos e mais boatos populares. Hoje temos a possibilidade real de vermos este sonho concretizado e então surgem vozes contrarias prezando por coisas que infelizmente não se pode manter nas cercanias de uma capital de aproximadamente 3 milhões de pessoas.
João Ubaldo é um grande escritor isto poucos contestam, mas que vê a ilha apenas como recanto de paz e traquilidade nas suas férias quando sai do Rio de Janeiro e vem para a “província” de Itaparica apenas descansar. Será que ele já se perguntou de verdade como os moradores da ilha dos quais ele já retirou muitos personagens para suas obras sobrevivem, no interior de suas residências, se comem apenas peixe quando a pesca é boa? Obviamente que não vou defender o que muitos dizem, que a ponte vai gerar empregos para estas pessoas que passaram a vida pescando e mariscando entre outras atividades que a ilha oferece e não sabem fazer outra coisa, mas vou defender que existem milhares de moradores de Itaparica que já migraram para Salvador e demais cidades, não por desejo mas por necessidade de sobrevivência, pessoas que utilizam os serviços da capital como o sistema de saúde e de ensino dentre outros. Será que João já se perguntou quantas horas estas pessoas levam na fila para se deslocar da ilha para Salvador e vice-versa.
Na verdade consigo entender um pouco João, mas não aceitar seus argumentos, há uns anos atrás estive em Siribinha, um povoado distrito da cidade de Conde na Linha Verde, fiquei maravilhado com a rua de areia, é apenas uma, e a estrada de areia que leva ao povoado de pescadores. Uma paz que a muito não via, dormimos de portas e janelas abertas, um verdadeiro paraíso, para mim, para muitos moradores uma tristeza, sem emprego, renda, “desenvolvimento”, para mim tudo lindo, passei apenas uma semana e no final já gerava um pouco de monotonia, com poucas opções de atividades. Agora fui informado que o trafico de drogas tomou conta do povoado, viciando os poucos jovens que permanecem em Siribinha, e até pessoas mais velhas já estão viciadas, um horror que chega até nas localidades mais distantes. Contra o tempo não há argumento e o tempo traz o desenvolvimento ou o pseudo desenvolvimento, se fala em sustentável, mas sustentar uma explosão demográfica e de consumo não tem solução fora da educação.
A ponte virá, tomara. O que João Ubaldo e outros ditos intelectuais têm que entenderem é que como diz Belchior na musica “Como Nossos Pais”, o novo sempre vem, ele citou os saveiros a vela do recôncavo que quase não existem mais, mas ele outra vez não se questionou que hoje os barcos são de alumínio com motor, poucos querem depender dos ventos para trabalhar, além do quê o transporte rodoviário mudou tudo, para melhor? Não posso responder. Mas acredito que o desenvolvimento se faz necessário. Para quem mora em um maravilhoso apartamento a beira mar no Rio de Janeiro e ganha dinheiro escrevendo, e bem graças a Deus, se questionar como viver da pesca e da mariscagem sem acesso a muitos dos bens de consumo que o referido escritor usufrui, assim como das viagens que faz é difícil entende o porquê as mulheres com 35 anos estarem banguelas, e os homens decrépitos na Ilha. Estão por que a renda e a qualidade de vida são insuficientes para uma vida realmente digna e condizente com o mundo atual, estes moradores querem ter acesso a TV de LCD e notebook, e porque não? Só João pode? A ponte vai trazer isso? Certamente não para esta geração, mas quem sabe nas próximas, com acesso a um rede melhor de educação e transporte. Criticar uma ponte que vai beneficiar milhares destes moradores em prol de um sosseguinho nas férias uma vez por ano é no mínimo egoísmo e inconsciência, mas é a opinião dele e seus seguidores e temos que respeitar, lembro de meu pai que sempre me dizia “meu filho está miséria dos alagados já inspirou artistas do mundo todo, mas é bonito ver nas telas, mas só quem vive ai sabe o que passa” consigo fazer está analogia e lembro de outra composição a Exaltação à Mangueira, samba de 1956 de Enéas Brites da Silva e Aloísio Augusto da Costa “Mangueira teu cenário é uma beleza/Que a natureza criou, ô...ô.../O morro com teus barracões de zinco,/Quando amanhece, que esplendor”, beleza para quem vê mas para quem mora nos barracões de zinco será que é uma beleza?

Nenhum comentário: